Hamburger Anzeiger - Um lobo 'imigrante' revitalizou um ecossistema florestal nos EUA

Um lobo 'imigrante' revitalizou um ecossistema florestal nos EUA
Um lobo 'imigrante' revitalizou um ecossistema florestal nos EUA / foto: THOMAS KIENZLE - AFP/Arquivos

Um lobo 'imigrante' revitalizou um ecossistema florestal nos EUA

Um lobo solitário conseguiu revitalizar todo um ecossistema depois de cruzar uma ponte de gelo que temporariamente conectou o Canadá à remota Ilha Royale, no norte dos Estados Unidos, ao largo da costa de Michigan, no Lago Superior, em 1997, de acordo com um estudo publicado nesta quarta-feira (23).

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Sua chegada reavivou a sorte da população de lobos na área, afetada por doenças e endogamia, e desencadeou uma cascata de efeitos que melhoraram a saúde geral do ecossistema, de acordo com a pesquisa publicada na revista científica Science Advances.

"Questões como a endogamia e a baixa diversidade genética são uma preocupação significativa para os cientistas", disse Sarah Hoy, ecóloga da Universidade Técnica de Michigan, à AFP.

"Mas este é o primeiro estudo que mostra que quando você tem esses problemas genéticos, eles não afetam apenas a população específica e aumentam o risco de extinção: eles também têm esses efeitos em cascata realmente grandes em todas as outras espécies", acrescentou.

- "O Velho Cinzento" -

Os primeiros lobos chegaram à ilha no final da década de 1940, e sua principal presa eram os alces, o que levou ao estudo mais longo do mundo sobre um sistema predador-presa.

Mas nos anos 1980, os lobos estavam em apuros devido à chegada de uma doença, o parvovírus canino, que reduziu seu número de 50 para cerca de 12 exemplares.

Embora a doença tenha desaparecido, a população não se recuperou imediatamente. O motivo foi a grave endogamia, que resultou em menor sucesso reprodutivo, bem como piores sequelas para a saúde, como deformidades na coluna vertebral do tipo geralmente vista em cães de raça pura.

"Se você é um lobo selvagem e precisa derrubar uma presa como um alce, oito vezes maior que você, a vida na natureza pode ser muito difícil", explicou Hoy.

Foi nesse momento que chegou o "imigrante", identificado como "M93" pelos cientistas, mas carinhosamente apelidado de "O Velho Cinzento".

M93 não tinha parentesco com a população existente e também era excepcionalmente grande, uma vantagem para defender seu território de rivais ou abater ungulados, mamíferos quadrúpedes de casco, com mais de 350 quilos.

Ele rapidamente se tornou o macho reprodutor de uma das três alcateias de lobos da ilha e teve até 34 filhotes, o que melhorou significativamente a saúde genética da população e a taxa de mortalidade de suas presas.

- Restabelecer o equilíbrio -

Os alces são herbívoros vorazes que consomem até 14 quilos de vegetação por dia. Ao reduzir seu número, os lobos ajudaram a restabelecer o equilíbrio da floresta, o que foi notado principalmente nas árvores de abeto-balsâmico, uma espécie frequentemente usada como árvore de Natal.

Com menos alces, as árvores começaram a crescer a ritmos não vistos em décadas, o que é vital para a renovação da floresta e para a grande quantidade de espécies vegetais e animais que dependem dela.

Os benefícios trazidos pela chegada de M93 duraram cerca de uma década. Depois, a situação voltou a piorar, ironicamente devido ao seu extremo sucesso reprodutivo.

Em 2008, dois anos após sua morte, 60% do acervo genético da população de lobos era proveniente de M93, o que levou a um retorno do declínio genético. O próprio M93 começou a se reproduzir com uma de suas filhas após a morte de sua companheira.

Felizmente, um programa de restauração iniciado em 2018 reequilibrou o sistema e atualmente há cerca de 30 lobos e um pouco menos de 1.000 alces na ilha.

Para Hoy, uma ideia-chave é que o mesmo princípio de inserir apenas um pequeno número de indivíduos poderia ser aplicado a outras populações de predadores em perigo que sofrem de endogamia, como leões ou chitas.

William Ripple, professor de ecologia da Universidade Estadual do Oregon, que não participou da pesquisa, explicou à AFP que este era um "estudo importante" que avança na compreensão "ao demonstrar que os processos genéticos podem limitar os efeitos ecológicos de uma espécie-chave, o lobo cinzento".

P.Garcia--HHA