Cúpula da PM é presa em Brasília por 'omissão' nos atos de 8 de janeiro
Sete integrantes da cúpula da Polícia Militar de Brasília foram presos nesta sexta-feira (18) como parte de uma investigação sobre sua "omissão" e tentativa de "golpe" durante os ataques de 8 de janeiro às sedes dos Três Poderes, informou a Procuradoria-Geral da República (PGR).
Os oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) "se uniram de forma subjetiva aos manifestantes e se omitiram nos deveres de proteção e vigilância", afirmou em comunicado a PGR.
Os agentes presos nesta sexta-feira, incluindo o comandante-geral e o subcomandante-geral da força na época dos acontecimentos, demonstravam uma "profunda contaminação ideológica", acrescentou.
Jair Bolsonaro (2019-2022) perdeu a reeleição para Luiz Inácio Lula da Silva em outubro do ano passado, por uma margem estreita.
Após a derrota, grupos bolsonaristas, convencidos de que seu líder havia sido vítima de fraude, promoveram bloqueios de estradas e manifestações pedindo intervenção militar.
No dia 8 de janeiro, uma semana após a posse de Lula, milhares de defensores de Bolsonaro invadiram e vandalizaram as sedes da Presidência, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília.
Estes policiais "sabiam das intenções da turba acampada" e "eles próprios compartilhavam entre si mensagens de teor golpista pelo menos desde as eleições", questionando a legitimidade do processo eleitoral, segundo a denúncia.
"As desinformações que circulavam entre o alto oficialato da PMDF demonstravam expectativa de mobilização popular para garantir Bolsonaro no poder, em desrespeito ao resultado das eleições presidenciais", afirmou no comunicado o subprocurador Carlos Frederico Santos, autor da denúncia.
Havia uma "alinhamento ideológico e de propósitos entre os denunciados e aqueles que pleiteavam a intervenção das Forças Armadas", acrescentou Santos, que solicitou a acusação dos agentes por crimes de omissão, golpe de Estado e tentativa violenta de abolição do Estado Democrático de Direito.
- Não houve "apagão de inteligência" -
A Procuradoria descarta que em 8 de janeiro tenha ocorrido um "apagão" no trabalho dos serviços de inteligência que impediu a prevenção dos ataques.
"Os oficiais detinham abundantes informações em diversos grupos de comunicação, inclusive com agentes infiltrados nos acampamentos para monitorar a proporção dos atos", detalhou a PGR.
"O que ocorreu, em verdade, foi omissão dolosa por parte dos denunciados que (...) aceitaram os resultados visados pela turba antidemocrática e aderiram ao intento criminoso dos insurgentes", disse o subprocurador.
O episódio estremeceu a democracia brasileira e desencadeou uma ampla investigação que já culminou em centenas de prisões.
Bolsonaro, que foi recentemente condenado pela Justiça Eleitoral e não poderá concorrer às próximas eleições presidenciais por ter atacado publicamente o sistema eleitoral brasileiro, está sendo investigado por sua participação nesses ataques.
Ele nega qualquer vínculo com o ocorrido.
Bolsonaro e seu entorno enfrentam várias investigações judiciais, incluindo uma sobre o suposto desvio de joias e outros presentes do Estado para enriquecimento pessoal, e a falsificação de certificados de vacinação contra a covid-19 para entrar nos Estados Unidos.
E.Borstelmann--HHA