Hamburger Anzeiger - Suicídio, uma realidade presente entre as afegãs, diz diretora da ONU

Suicídio, uma realidade presente entre as afegãs, diz diretora da ONU
Suicídio, uma realidade presente entre as afegãs, diz diretora da ONU / foto: Shafiullah KAKAR - AFP

Suicídio, uma realidade presente entre as afegãs, diz diretora da ONU

O suicídio e a ideia de tirar a própria vida estão "por toda parte" entre as mulheres afegãs, à medida que se veem cada vez mais isoladas e constrangidas, com frequência por familiares do sexo masculino encarregados de fazer cumprir os decretos dos talibãs, declarou a diretora-executiva da ONU Mulheres, Sima Bahous, ao Conselho de Segurança, nesta terça-feira (26).

Tamanho do texto:

Desde que retornou ao poder em 2021, o governo talibã recorreu à sua interpretação rigorosa do Islã para minar os direitos das mulheres, proibindo-as de frequentar escolas, fechando espaços públicos como parques e salões de beleza, e negando-lhes permissão para trabalhar.

"Elas nos dizem que são prisioneiras que vivem na escuridão, confinadas às suas casas, sem esperança de futuro", disse Sima.

A capacidade de tomada de decisão das mulheres foi drasticamente reduzida, não apenas em nível nacional e provincial, mas também em suas comunidades, famílias e, acima de tudo, em suas próprias casas.

"Isto se deve ao aumento da pobreza, ao declínio das contribuições econômicas das mulheres, à imposição, por parte dos talibãs, de normas de gênero hiperpatriarcais e ao crescente isolamento das mulheres", afirmou Sima Bahous.

A crescente lista de proibições "é aplicada com maior frequência e severidade, inclusive por parte dos membros da família do sexo masculino, à medida que os talibãs obrigam-nas a fazer cumprir seus decretos", explicou.

Com as restrições, aumentam os casamentos com menores e o trabalho infantil, acrescentou Bahous.

A situação está impactando a saúde mental das afegãs, alertou.

"Enquanto o percentual de mulheres com trabalho continua a diminuir, 90% das jovens entrevistadas declaram ter uma saúde mental ruim, ou muito ruim, e o suicídio e as ideias suicidas estão por toda parte", ressaltou.

Apesar da situação, os fundos internacionais vêm diminuindo: do plano de ajuda de 3,2 bilhões de dólares (15,9 bilhões de reais na cotação atual) que a ONU solicitou para o Afeganistão até 2023, arrecadou-se apenas 28%, disse a chefe da missão da ONU no Afeganistão (UNAMA), Roza Otunbayeva.

Por esse motivo, ela pediu aos doadores formas "inovadoras" de ajudar mulheres e meninas afegãs que têm "coragem e criatividade" para desafiar estas restrições, seja pela Internet, com ajuda em dinheiro e bolsas de estudo, seja pela migração segura.

"Muitos programas já foram encerrados por falta de fundos, justo quando se aproxima o inverno, e as vidas correm mais perigo", advertiu.

Cerca de 15,2 milhões de afegãos dependentes da ajuda internacional podem passar "fome nos próximos meses", completou.

Ela também defendeu o diálogo com o governo talibã.

"Diálogo não é reconhecimento", insistiu, antes de especificar que "o diálogo e o compromisso são a forma como tentamos mudar estas políticas".

Embora o governo talibã afirme que "suas instituições são inclusivas, parece haver uma crescente lacuna de legitimidade com o povo", observou Sima, acrescentando que "não pode haver legitimidade internacional, sem legitimidade interna".

Th.Frei--HHA