Hamburger Anzeiger - Venda de álcool na Arábia Saudita, uma mudança superficial ou uma reviravolta importante?

Venda de álcool na Arábia Saudita, uma mudança superficial ou uma reviravolta importante?
Venda de álcool na Arábia Saudita, uma mudança superficial ou uma reviravolta importante? / foto: Giuseppe CACACE - AFP/Arquivos

Venda de álcool na Arábia Saudita, uma mudança superficial ou uma reviravolta importante?

O anúncio de que em breve vai abrir uma loja de bebidas para diplomatas não muçulmanos na Arábia Saudita gerou debate no reino ultra-conservador, onde locais e expatriados se perguntam se se trata de uma mudança superficial ou de uma reviravolta de maior alcance.

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Segundo fontes próximas à iniciativa, o projeto será estritamente limitado pelas autoridades e não levará a nenhuma mudança para a grande maioria dos 32 milhões de habitantes da monarquia do Golfo.

Somente os diplomatas não muçulmanos terão acesso à loja de bebidas alcoólicas, que ficará localizada na capital, Riad. Até agora, eles podiam obter álcool por meio das malas diplomáticas.

Os clientes deverão respeitar cotas e se registrar por meio de um aplicativo. Eles também terão que guardar seus celulares em um "bolso especial" ao encherem seus carrinhos com cervejas, vinhos e licores.

No entanto, há quem veja nesta medida uma quebra na política de proibição que vigora nacionalmente desde 1952 e que poderia preceder outras mudanças mais significativas.

"Este país não deixa de nos surpreender", reagiu um empresário libanês - que preferiu permanecer no anonimato - enquanto jantava na quarta-feira no LPM, um restaurante francês na capital saudita conhecido por sua carta de vinhos e coquetéis sem álcool e sua barra de mármore de 18 metros.

"Este é um país que se desenvolve, que cresce e atrai muito talento e investimentos. Então, é claro, haverá muito mais", considerou.

- Uma mudança que "assusta" -

Por outro lado, dois sauditas na casa dos trinta anos mostraram-se preocupados com a identidade do reino.

"Não é isso que somos", disse um deles, garantindo não julgar as pessoas que bebem. Mas, segundo ele, "o fato de ter [uma loja de venda de álcool] afeta a cultura e a comunidade".

"Direi que, se eu tiver um irmão mais jovem e houver álcool circulando, é possível que ele se torne alcoólatra", explicou.

Segundo seu amigo, quem quiser beber deveria fazê-lo no exterior, como tem sido feito até agora. "Assusta que autorizem que algo assim entre [no país]", apontou.

No âmbito de seu extenso programa de reformas, o príncipe herdeiro e líder de facto Mohamed bin Salman busca diversificar a economia do maior exportador mundial de petróleo, desenvolvendo os setores de negócios, esportes e turismo, com a emissão de vistos turísticos desde 2019.

- Mais abertura social -

Nos últimos anos, o país passou por várias reformas sociais, impulsionadas pelo príncipe herdeiro, como a reabertura dos cinemas em 2018, após 35 anos.

Além disso, desde o mesmo ano, as mulheres podem dirigir no reino, e agora há aquelas que são mecânicas e maquinistas.

Um ano depois, foi permitido que as mulheres sauditas com mais de 21 anos tirassem o passaporte e viajassem para o exterior sem a necessidade de autorização prévia de nenhum homem.

E enquanto, até pouco tempo atrás, a polícia moral impedia que pessoas de sexos opostos se reunissem em locais públicos, agora homens e mulheres podem compartilhar algumas praias ou assistir juntos a determinados concertos e eventos esportivos.

Segundo Kristin Diwan, do Arab Gulf States Institute, em Washington, Mohamed bin Salman deseja atrair mais estrangeiros, e uma flexibilização "gradual" das restrições ao álcool pode ajudar nisso.

"É mais um passo na normalização, realizada pelo governo, da aprovação do álcool em contextos definidos", apontou.

Na quarta-feira, as autoridades sauditas afirmaram que seu objetivo é "combater o comércio ilegal de produtos alcoólicos recebidos pelas missões diplomáticas".

Para Kristian Ulrichsen, pesquisador no Baker Institute da Universidade Rice, o governo saudita está transmitindo uma "mensagem sutil, afirmando que pode haver uma mudança, mas que o processo será progressivo e monitorado de perto".

F.Fischer--HHA