Concebida nas favelas do Rio, escola gratuita promove moda sustentável na França
A Casa93 foi uma ideia surgida nas favelas do Rio, desenvolvida na periferia de Paris e agora é implantada em um bairro carente da cidade francesa de Toulouse (sudoeste) para ensinar jovens estilistas a produzir moda barata e sustentável.
Escondida entre enormes prédios de apartamentos no bairro popular de Mirail, a sala é ampla, com janelas grandes, e cheias de tecidos, carretéis, botões de todas as cores, manequins de plástico e livros de moda.
Em volta de uma mesa de madeira, treze estudantes ouvem os conselhos dos fundadores da prestigiosa marca francesa Marithé + François Girbaud.
O objetivo é adaptar vestidos da grife de luxo Valentino para uma moda "casual", que possa ser usada no dia a dia.
"Por mais que você desenhe linhas em todos os sentidos, lembre-se de que uma calça só tem duas pernas", explica Marithé Bachellerie, de 81 anos, madrinha desta primeira promoção da Casa93 Mirail, com sua parceira, François Girbaud, de 78 anos.
Trata-se de "ensiná-los a fazer roupas que possam ser usadas" e "que durem (...) porque perdemos essa noção", explica esta estilista, crítica da "fast fashion" e da "moda descartável".
A taxa de pobreza no bairro de Mirail é de 50%. A escola foi instalada há menos de um ano onde antes funcionava uma biblioteca pública.
Em 1º de setembro está previsto o momento-chave desta primeira promoção da Casa93: um desfile com cerca de 30 modelos desenhados pelos estudantes.
- Falta de legitimidade -
"A aventura começou há 18 anos no Brasil com (...) a abertura de duas pequenas escolas de moda em favelas do Rio", explicou à AFP Nadine González, de 48 anos.
Quando voltou para a França, em 2017, ela fundou a Casa93 no departamento de Seine-Saint-Denis, grande área urbana carente na entrada de Paris.
Neta de imigrantes espanhóis, Nadine González procurou imediatamente uma cidade para ampliar a experiência.
"Foi em Toulouse que senti que era possível, no Mirail, porque aqui há jovens em situação difícil (...) Que não podem financeiramente ou acham que não têm legitimidade para entrar em uma escola de moda", explica.
Sofia Benyoucef, de 23 anos, cresceu no Mirail. Ela estudou marketing, fez incursões no setor de organização de eventos, mas era a moda que a fazia sonhar.
"Não sabia nada de costura", admite. "Faltam recursos financeiros" para entrar em uma escola respeitada. Por isso, a Casa93 é uma boa alternativa para "aprender trabalhando".
Para ser selecionados, os candidatos devem cumprir três critérios: ter criatividade, possuir valores humanos e ambientais e "ter um grande coração para pensar em um mundo mais solidário", explica Nadine González.
Segundo François Girbaud, a moda não se preocupou até agora com seu impacto ecológico.
"Esta nova geração pode mudar as coisas", assegura.
- Curso gratuito de um ano -
O curso tem três ciclos. São quatro meses dedicados à descoberta da costura, o upcycling (reuso de roupas), a experimentação com tecidos de procedência ecológica e tintas de origem vegetal, entre outros temas.
Os seis meses seguintes são dedicados ao "trabalho em equipe (...) em aprender a escutar, deixar o ego de lado e trabalhar a criatividade", acrescenta Nadine González.
Os dois últimos meses são dedicados "à orientação, à inserção" no mercado do trabalho através de empresas associadas, que financiam a Casa93 Mirail em cerca de 20% (o restante vem de subvenções públicas).
Lily Barteaux, de 21 anos, os cabelos curtos tingidos de rosa e visual "gótico", está em plena atividade. "O que mais gosto daqui é que posso desenvolver meu universo criativo. A técnica eu já tenho", garante, com segurança.
H.Rathmann--HHA