Boeing registra perdas de US$ 6,2 bilhões e sindicato prorroga greve
A fabricante americana de aeronaves Boeing reportou, na quarta-feira (23), perdas trimestrais de quase 6,2 bilhões de dólares (35,33 bilhões de reais, na cotação atual) no terceiro trimestre do ano, devido a uma greve de quase seis semanas que o sindicato prosseguirá após rejeitar uma proposta da empresa.
A cifra superou as estimativas dos analistas para o período, que esperavam um déficit de US$ 6,12 bilhões (R$ 34,86 bilhões). O valor final foi de US$ 6,17 bilhões (R$ 34,15 bilhões).
A gigante da aviação, que tem estado sob escrutínio dos reguladores devido a problemas de segurança, registrou uma queda de 1% em sua receita, totalizando US$ 17,8 bilhões (R$ 101,41 bilhões) no trimestre.
Após quase seis semanas de paralisação, na quarta-feira à noite quase dois terços (64%) dos membros do Distrito 751 da Associação Internacional de Trabalhadores Aeroespaciais (IAM) rejeitaram de forma categórica a última proposta de contrato da empresa, prolongando a greve.
"Após 10 anos de sacrifícios, ainda temos muito espaço para recuperar e esperamos fazê-lo retomando as negociações rapidamente", disse Jon Holden, presidente do sindicato de Seattle, em um comunicado.
O mercado já esperava resultados negativos desde que, em 11 de outubro, o novo CEO, Kelly Ortberg, anunciou um corte de 10% no quadro de funcionários da companhia.
As divisões de defesa e aeroespacial registraram perdas de US$ 2 bilhões (R$ 11,39 bilhões) no trimestre, principalmente devido ao avião de reabastecimento KC-46A Pegasus da Força Aérea, que já havia gerado problemas em trimestres anteriores.
Além disso, os problemas com os modelos 777X e 767, junto com a greve em curso do sindicato de maquinistas IAM, geraram um impacto financeiro adicional de US$ 3 bilhões (R$ 17,08 bilhões).
As ações da Boeing caíam cerca de 2,6% ao meio-dia desta quarta-feira em Wall Street.
- Greve e votação -
Cerca de 33 mil trabalhadores do IAM no noroeste dos Estados Unidos entraram em greve em 13 de setembro.
"Dez anos de reprimendas aos trabalhadores não podem ser desfeitos de maneira rápida ou fácil, mas continuaremos negociando de boa-fé até alcançarmos as conquistas que os funcionários sintam que compensam adequadamente o que a empresa retirou no passado", acrescentou o líder sindical Holden na quarta-feira, após a rejeição de um novo acordo.
Ortberg disse em uma mensagem aos funcionários que um novo rumo exigirá uma "mudança cultural fundamental", assim como medidas para estabilizar as finanças, melhorar as operações e criar uma visão de futuro para a empresa.
"Vai levar tempo para devolver à Boeing seu antigo legado, mas com o foco e a cultura adequados, podemos voltar a ser uma empresa icônica e líder", declarou Ortberg em um comunicado.
O executivo se reuniu com analistas de Wall Street nesta quarta-feira em sua primeira conferência por telefone desde que entrou para a empresa no início de agosto.
Em entrevista à CNBC, ele garantiu que os cortes de pessoal não estão relacionados com a greve, mas que são necessários porque a empresa atualmente tem mais funcionários do que o necessário para seus negócios.
Antes da greve, a Boeing já havia começado a produzir menos aeronaves para garantir mais atenção aos protocolos de segurança, após um painel da fuselagem de um 737 MAX da Alaska Airlines se desprender durante um voo, em janeiro, forçando um pouso de emergência.
O incidente ocorreu anos após dois acidentes fatais com o mesmo modelo em 2018 e 2019, que resultaram em 346 mortes. A Boeing, assim, está sob forte pressão das autoridades da aviação.
F.Carstens--HHA