Presidente da Guatemala faz viagem a Taiwan em meio a tensões com China
O presidente da Guatemala, Alejandro Giammattei, embarcou neste sábado (22) em um voo comercial para Taiwan em uma visita oficial destinada a confirmar o apoio do país à ilha, em meio a fortes tensões entre Pequim e Taipei.
"Estamos indo a Taiwan também para enviar uma mensagem muito clara ao mundo de que os países têm o direito de se autogovernar" e "ter seus próprios territórios" sem serem ameaçados, disse Giammattei em vídeo publicado por sua conta no Twitter antes de partir.
O governante tem previsto se encontrar com sua contraparte taiwanesa, Tsai Ing-wen, que visitou Guatemala e Belize há apenas três semanas.
"A amizade entre Guatemala e China Taiwan é inquebrantável", declarou Giammattei dias antes, durante a visita de Tsai, afirmando que a ilha é "uma nação independente e a única e verdadeira China".
Durante sua visita, de segunda a quinta-feira, Giammattei falará perante o Parlamento de Taiwan e visitará uma empresa de tecnologia em Taichung, ao sul de Taipei. Também participará de um evento de promoção do café guatemalteco, segundo a Presidência taiwanesa.
Guatemala e Belize são os únicos países centro-americanos que mantêm laços diplomáticos com Taiwan, após a ruptura de Honduras, que se vinculou com a China em 26 de março. No mundo, apenas 13 países reconhecem a ilha.
Sob o princípio de "uma só China", Pequim não permite que nenhum país tenha vínculos diplomáticos com eles e com Taiwan ao mesmo tempo.
A China considera a ilha de governo democrático e autônomo como uma província rebelde que é parte de seu território e que espera recuperar um dia, inclusive à força.
Após seu giro centro-americano, Tsai se reuniu em 5 de abril em Los Angeles com o presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Kevin McCarthy, o que desencadeou a ira de Pequim.
Em resposta, a China mobilizou durante três dias aviões e navios de guerra em águas adjacentes a Taiwan, o que elevou consideravelmente as tensões.
Pequim exortou Giammattei na quarta-feira que "não vá contra a tendência global geral e as aspirações do povo guatemalteco, por seu próprio benefício".
- "De mãos dadas" -
Na terça-feira, Giammattei adiantou que Taiwan fornecerá recursos ao país para enfrentar desastres naturais e que visitará "as maiores empresas sino-taiwanesas interessadas em vir [se instalar] na Guatemala".
Sua viagem ocorre dois meses antes das eleições presidenciais na Guatemala. Espera-se que seu sucessor mantenha os laços com a ilha.
"Estamos de mãos dadas com Taiwan", afirmou recentemente a candidata social-democrata Sandra Torres, uma das duas aspirantes que lideram as pesquisas para as eleições de 25 de junho.
A outra candidata favorita nas pesquisas, a direitista Zury Ríos, filha do ex-ditador militar Efraín Ríos Montt (1982-1983), também não planeja romper com Taiwan, portanto, este tema é pouco relevante para a campanha.
- "No mesmo eixo" -
A jornada de Giammattei é uma "ação significativa" para Taiwan, porque "a região centro-americana está de certa forma se inclinando para a China continental", disse à AFP a analista Virginia Pinto, da Associação de Pesquisa e Estudos Sociais.
"Poderíamos ver um aumento em doações, em ajudas não remuneradas ou técnicas que Taiwan poderia estar oferecendo à Guatemala, precisamente para conservar um dos últimos apoios que está tendo a nível internacional", acrescentou.
A América Latina tem sido um terreno disputado desde que Taiwan e China se separaram em 1949, no final da guerra civil chinesa. Os comunistas assumiram o poder na China continental, enquanto os nacionalistas se retiraram para Taiwan.
A viagem de Giammattei "é uma mensagem para nosso parceiro comercial mais importante, que é os Estados Unidos", ao demonstrar "estar no mesmo eixo desta potência" aliada a Taipei, apontou Pinto.
A.Baumann--HHA