Milhares participam da 'marcha das bandeiras' em Jerusalém em clima de tensão
Dezenas de milhares de judeus comemoraram, nesta quinta-feira (18), "o dia de Jerusalém", em um clima familiar no lado oeste da Cidade Santa, mas tenso e inclusive violento na parte leste, ocupada e anexada por Israel.
Essa manifestação ocorre em um contexto de forte tensão devido ao conflito entre Israel e forças palestinas, que resultou em cerca de 200 mortos este ano, sendo 35 deles em uma guerra entre 9 e 13 de maio na Faixa de Gaza.
Desde "a época do rei Davi, Jerusalém é a capital do povo de Israel", disse à noite o premiê israelense, Benjamin Netanyahu.
Os palestinos do leste da cidade fecharam as portas de seus estabelecimentos e estavam proibidos de entrar pela porta de Damasco, na Cidade Velha de Jerusalém, setor anexado por Israel, para dar passagem aos manifestantes.
Correspondentes da AFP viram alguns nacionalistas israelenses atacar jornalistas com garrafas e pedras, enquanto outros gritavam "morte aos árabes". Pouco antes, viram jovens judeus cuspir em palestinos e agredir um deles.
Na Faixa de Gaza, milhares de pessoas se reuniram na fronteira, muitas delas com bandeiras palestinas, enquanto o Exército israelense usava gás para dispersar aqueles que se aproximavam da barreira.
Uma fonte de segurança palestina afirmou que o Hamas, movimento islâmico palestino que governa Gaza, lançou um "foguete de aviso" ao mar.
- Marcha 'provocadora' -
A anexação da parte oriental de Jerusalém e da Cidade Velha nunca foi reconhecida pela comunidade internacional.
Na quarta-feira, Nabil Abu Rudeina, porta-voz do presidente palestino, Mahmoud Abbas, criticou a organização dessa marcha "provocadora", que considera uma evidência da "aprovação do governo israelense à opinião de extremistas judeus".
O Hamas condenou "a campanha da ocupação sionista contra nosso povo palestino na Jerusalém ocupada". Os manifestantes são "um perigo, batem nas portas das lojas e de nossas casas", declarou Abu al Abed, de 72 anos.
Essa celebração ocorre "3.000 anos depois de ter sido fundada pelo rei Davi, 75 anos depois de ter sido refundada como capital do renascido Estado de Israel, e 56 anos depois de ter sido reunificada", declarou, hoje, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
"Jerusalém é nossa para sempre", afirmou aos jornalistas Itamar Ben Gvir, ministro de extrema direita israelense, presente durante a marcha.
A manifestação, que tradicionalmente atravessa a Cidade Velha de Jerusalém, deve terminar no Muro das Lamentações, local sagrado para os judeus, situado abaixo da Esplanada das Mesquitas, o terceiro local mais sagrado do Islã.
A esplanada foi construída sobre o Monte do Templo, o local mais sagrado para os judeus, que podem visitá-lo, mas não podem rezar.
- 'Foguete de advertência' -
O Exército israelense informou que manifestantes atiraram "objetos explosivos" e que soldados, do outro lado da barreira, "dispararam balas reais de advertência para dispersá-los".
Uma fonte de segurança palestina em Gaza informou que o Hamas disparou um "foguete de advertência" para o Mediterrâneo, sem dar detalhes.
Em Jerusalém, um forte contingente da polícia israelense se deslocou para a rua al-Wad, uma das principais da Cidade Velha, no trajeto autorizado pelas autoridades.
Já em 2022, 79 pessoas ficaram feridas em confrontos entre forças de segurança e palestinos.
Este ano, a polícia israelense disse ter enviado 2.500 agentes a Jerusalém para garantir a ordem pública.
Para Tom Nissani, israelense de 34 anos que defende as visitas dos peregrinos ao Monte do Templo, Jerusalém "é nossa capital, devemos mostrá-la regozijar-nos e lutarmos por ela".
Em contraste, um grupo pacifista israelense distribuiu flores pela manhã aos comerciantes árabes da Cidade Velha, para apoiá-los e protestar contra o fechamento de seus negócios.
X.Nguyen--HHA