Líderes pró-democracia detidos em Hong Kong no aniversário do massacre da Praça da Paz Celestial
A polícia de Hong Kong deteve neste domingo (4) várias personalidades do movimento pró-democracia, incluindo a líder de um partido da oposição, no 34º aniversário do massacre da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) de Pequim.
A polícia mobilizou um grande contingente durante o fim de semana nos arredores do Parque Victoria, no bairro comercial de Causeway Bay, onde durante muitos anos milhares de pessoas se reuniam para recordar, com uma vigília, as vítimas de 4 de junho de 1989.
Chan Po-ying, líder da Liga dos Social-Democratas, que estava com uma vela e flores, foi detida pela força de segurança.
Outras personalidades detidas foram Alexandra Wong, uma ativista de 67 anos conhecida como "Avó Wong", que exibia um ramo de flores, e a jornalista Mak Yin-ting, que já presidiu a Associação de Jornalistas de Hong Kong.
Outra mulher foi detida depois de gritar: "Levantem as velas" e "Chorem pelo 4 de junho", uma referência à data da repressão violenta de Pequim às manifestações que pediam democracia na China.
Ao menos 10 pessoas foram detidas, de acordo com correspondentes da AFP.
No sábado, a polícia anunciou a detenção de quatro pessoas por "comportamento desordeiro no espaço público" e outras quatros por "perturbação da ordem pública".
- Calar a dissidência -
Na China continental, as autoridades proíbem qualquer cerimônia de recordação dos eventos de 4 de junho de 1989, quando tropas e tanques acabaram com o movimento pró-democracia que protestava há várias semanas na Praça Tiananmen e mataram mais de 1.000 pessoas.
Hong Kong, que o Reino Unido devolveu à China em 1997, foi durante muito tempo a única cidade chinesa a organizar uma vigília com velas em memória das vítimas.
Em 2020, no entanto, uma lei de segurança nacional imposta por Pequim à cidade - que havia sido cenário de grandes manifestações pró-democracia nos meses anteriores - proibiu as cerimônias.
Este ano, o Parque Victoria está ocupado por uma feira comercial dedicada a produtos procedentes do sul da China e organizada por grupos pró-Pequim para celebrar o 26º aniversário da devolução de Hong Kong.
"Hong Kong é uma cidade diferente hoje", afirmou uma mulher de 53 anos. Ao ser questionada sobre a vigília, ela respondeu que era um evento do passado.
- Apagar da memória -
O governo chinês faz todo o possível para apagar o massacre da Praça da Paz Celestial da memória pública na China continental.
Os livros de História não mencionam o evento e qualquer debate sobre o tema na internet é censurado de maneira sistemática.
A embaixada britânica em Pequim publicou a primeira página de 4 de junho de 1989 do jornal chinês 'People's Daily', que destacava uma reportagem sobre como os hospitais estavam lotados de vítimas.
"Em menos de 20 minutos, os censores retiraram nossa publicação do Weibo" (o equivalente chinês do Twitter), tuitou a embaixada neste domingo.
As autoridades também mobilizaram policiais ao redor da ponte Sitong, em Pequim, onde um manifestante exibiu uma faixa com a palavra "liberdade" em outubro do ano passado, um protesto raro na cidade.
Os ativistas pró-democracia de maior destaque de Hong Kong fugiram para o exterior ou foram detidos desde a aprovação da lei de segurança em 2020.
O chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, alertou que as pessoas devem agir de acordo com a lei ou "enfrentar as consequências".
Várias cidades do mundo devem organizar vigílias em homenagem às vítimas da Praça da Paz Celestial, de Tóquio a Nova York, passando por Londres.
Em Taiwan, país de governo autônomo que a China reivindica como parte de seu território, foi inaugurada neste domingo uma pequena réplica da obra "Pilar da Vergonha", uma escultura que homenageava as vítimas do massacre e que foi retirada da Universidade de Hong Kong em 2021.
"A história e a recordação não serão apagadas com facilidade", declarou Sky Fung, secretário-geral da ONG 'Hong Kong Outlanders', que tem sede em Taiwan. "A faísca continua em nossos corações", concluiu.
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U.Smith--HHA