Fundador de jornal crítico ao governo é condenado à prisão na Guatemala
Um tribunal da Guatemala condenou, nesta quarta-feira (14), a seis anos de prisão o fundador de um jornal crítico ao presidente Alejandro Giammattei, em um julgamento polêmico por lavagem de dinheiro, denunciado por sindicatos internacionais de imprensa.
O jornal fechou em 15 de maio, após 27 anos de circulação. José Rubén Zamora tinha esperanças de ser absolvido no julgamento, classificado por organizações de imprensa como uma "caça às bruxas" realizada em meio à campanha para as eleições gerais de 25 de junho.
Zamora anunciou que vai recorrer da decisão, assim como o Ministério Público, que havia pedido 40 anos de prisão.
"Vou apelar", disse Zamora sorridente, aparentando serenidade ao ser levado algemado do tribunal para a prisão onde já está detido há quase 11 meses.
"Estou contente, afinal é uma arbitrariedade (...) Pelo menos me alegra ter tirado do sério os palhaços da Fundaterror", acrescentou, em referência ao grupo Fundación contra el Terrorismo, demandante no processo.
Zamora informou que sua mulher, Minayú Marroquín, havia fugido para os Estados Unidos. "Tenho um filho no exílio que tem contra si um mandado de prisão. Por sorte, minha mulher partiu ontem à noite também para os Estados Unidos, porque acredito que querem prendê-la".
No julgamento, que teve início em 2 de maio, o Ministério Público acusava Zamora de lavagem de dinheiro, chantagem e tráfico de influência. O tribunal admitiu apenas as acusações de lavagem de dinheiro, e também o condenou a pagar uma multa de US$ 37,5 mil (R$ 182 mil).
"Vamos apresentar um recurso especial e solicitar novamente a pena que pedimos, de 40 anos, à Sala de Apelações", declarou, visivelmente irritado, o promotor Rafael Curruchiche.
A ex-promotora Samari Gómez, julgada com Zamora sob a acusação de vazar informações para ele, foi absolvida.
- "Continuo sendo inocente" -
A Promotoria acusou Zamora de tentar lavar a quantia de US$ 37,5 mil, "fruto de chantagens e extorsões" contra empresários para não publicar informações contra eles. O jornalista, no entanto, afirmou que a maior parte do dinheiro foi levantada com a venda de uma obra de arte para financiar seu veículo de comunicação, que atravessava uma crise devido a manobras do governo.
Zamora acusa o presidente guatemalteco e a procuradora-geral Consuelo Porras, alvo de sanções dos Estados Unidos, de terem fabricado o caso para silenciá-lo, por causa de publicações sobre a corrupção no governo.
"Continuo sendo inocente e ele continua sendo ladrão", disse Zamora sobre Giammattei após sua sentença.
O jornal "El Periódico" recebeu diversos prêmios. Alguns de seus jornalistas fugiram para o exílio depois que um juiz autorizou sua investigação pela cobertura dos processos criminais contra o fundador.
- Perseguição a advogados -
A Promotoria abriu outros dois processos contra Zamora, um por suposta tentativa de frear uma investigação por lavagem de dinheiro e outro pelo suposto uso de assinaturas falsas por ocasião de viagens ao exterior entre 2015 e 2017.
Zamora afirmou na audiência de hoje que, entre os advogados que participaram da sua defesa, "a maioria foi perseguida pelo Estado, quatro foram presos e dois deixaram o país".
Órgãos de defesa dos direitos humanos e sindicatos de imprensa internacionais criticaram o julgamento de Zamora, em meio à campanha para as eleições gerais do próximo dia 25.
O caso ocorre após a prisão de ex-promotores e juízes que investigaram casos de corrupção de alto nível e que são acusados, em sua maioria, de abuso de autoridade. Segundo a HRW, oito deles estão presos, e mais de 30, no exílio.
Para o candidato de centro à Presidência Edmond Mulet, a perseguição a jornalistas e promotores mostra que a Guatemala se dirige, "aos poucos, para um modelo autoritário. Não digo uma ditadura neste momento, mas autoritário".
A.Swartekop--HHA