UE e Celac diante do desafio de um acordo em reunião marcada pela Ucrânia
A União Europeia (UE) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) concluem nesta terça-feira (18) uma reunião de cúpula de dois dias em Bruxelas com o desafio de alcançar um acordo, depois das divergências registradas no primeiro dia do encontro, em particular sobre a Ucrânia.
O encontro é o primeiro entre os dois blocos e pretende estabelecer um roteiro para a relação entre a UE e os 33 países que integram a Celac.
O primeiro dia da reunião foi marcado pela insistência do bloco europeu em mencionar a Ucrânia e pelo anúncio feito pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, de um plano de investimento de 45 bilhões de euros (50,5 bilhões de dólares, 242,44 bilhões de reais) em vários anos para as economias da América Latina mediante o programa Global Gateway.
Com o programa de investimentos, a UE se pretende exercer um contrapeso à presença cada vez mais intensa da China na América Latina.
A guerra na Ucrânia foi mencionada direta ou indiretamente em vários discursos, ofuscando temas como os acordos comerciais, incluindo a demorada negociação com o Mercosul, uma reforma na composição do sistema financeiro internacional, a mudança climática e a transição energética.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou na sessão de abertura que o conflito na Ucrânia "é mais uma confirmação de que o Conselho de Segurança das Nações Unidas não atende aos atuais desafios à paz e à segurança".
- Lula pede "paz negociada" -
"Repudiamos veementemente o uso da força como meio de resolver disputas", disse, lembrando que o Brasil "apoia as iniciativas promovidas por diferentes países e regiões em favor da cessação imediata de hostilidades e de uma paz negociada".
"Recorrer a sanções e bloqueios sem o amparo do direito internacional serve apenas para penalizar as populações mais vulneráveis", ressaltou Lula, referindo-se a medidas adotadas por várias potências, incluindo a UE.
Os negociadores europeus querem incluir uma menção à guerra na Ucrânia na declaração final, um tema difícil devido às estratégias diferentes defendidas pelos países como solução para a invasão russa.
Sem fazer uma menção direta, o chefe de Governo espanhol, Pedro Sánchez, afirmou que os dois blocos precisam renovar sua "comum confiança nos valores do multilateralismo, particularmente na resolução pacífica dos conflitos nos princípios das Nações Unidas, na proteção dos direitos humanos e no respeito à integridade territorial dos Estados".
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, apontou que "não se deve permitir que a Rússia vença". "Será uma receita para o desastre para o multilateralismo e nosso sistema baseado em regras", declarou.
- Acordo com o Chile -
A expectativa inicial do bloco europeu era de que a cúpula fosse um momento para a assinatura do acordo com o Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai), travado após uma série de negociações iniciadas há mais de duas décadas.
O desmatamento e as questões ambientais são obstáculos para um acordo, mas a presidente da Comissão Europeia e Sánchez destacaram que esperam o fim das negociações no segundo semestre do ano.
Von der Leyen também anunciou que a modernização do acordo de livre comércio da UE com o Chile, maior produtor de cobre do mundo e que tem grandes reservas de lítio, será assinada nesta terça-feira.
A respeito da situação na Venezuela, Lula e os presidentes da Argentina, Alberto Fernández, da Colômbia, Gustavo Petro, e da França, Emmanuel Macron, participaram em uma reunião na segunda-feira com os negociadores do processo político no país.
Na semana passada, o presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez, descartou o envio de uma missão eleitoral da UE para as eleições presidenciais de 2024.
E.Bekendorp--HHA