Escolha de candidato governista à Presidência se complica no México
A escolha do candidato da situação à Presidência do México se complicou, nesta quarta-feira (6), depois que um dos principais aspirantes questionou a validade do processo e exigiu sua repetição horas antes de o vencedor ser anunciado.
O ex-chanceler Marcelo Ebrard denunciou "irregularidades" em uma consulta que vai definir o candidato da esquerda que, em sua avaliação, favorecem sua principal adversária, a ex-prefeita da Cidade do México, Chaudia Sheinbaum.
"Se o processo não for repetido, se esta consulta não for bem feita, então não estamos cumprindo com os objetivos que nos propusemos", disse Ebrard em um discurso em meio a gritos de apoio de sua equipe de campanha e partidários.
Ebrard afirmou que há "inconsistências" em 14% dos formulários, assim como propaganda eleitoral em áreas onde os pesquisadores se preparavam para colher informação. Anteriormente, ele vinculou Sheinbaum ao uso de recursos públicos na campanha.
Apesar disso, o processo de consulta avançava, segundo o presidente do partido Morena, Mario Delgado, que prevê anunciar o vencedor ainda esta tarde. A pesquisa consultou 12.000 pessoas.
Se Sheinbaum vencer, duas mulheres vão disputar pela primeira vez a Presidência do México, depois de a senadora Xóchitl Gálvez ter sido escolhida, no domingo, a candidata de uma coalizão de partidos da oposição. Não há no horizonte um terceiro postulante.
Sheinbaum, uma física de 61 anos, supera Ebrard nas intenções de voto, segundo duas pesquisas publicadas recentemente na imprensa mexicana.
Segunda maior economia latino-americana, depois do Brasil, e principal parceiro dos Estados Unidos, o México está mergulhado em uma espiral de violência ligada a ações de cartéis do narcotráfico, às quais se soma uma longa lista de feminicídios.
Os atritos entre Ebrard e Sheinbaum representam uma prova de unidade para o Morena, favorito às eleições de 2024, majoritário no Parlamento e governante em 23 dos 32 estados mexicanos.
Muito popular, o presidente Andrés Manuel López Obrador gabou-se na terça-feira de não ter "inclinado a balança" a favor de nenhum candidato.
"Acabou o quem indica", disse, usando a expressão 'dedazo', que denota em espanhol a escolha do candidato por favoritismo pessoal do presidente em exercício. O candidato será definido pelas "pessoas consultadas", reforçou.
Se não sair vencedor, Ebrard poderia deixar o Morena, segundo algumas versões. Brincando, a candidata Gálvez chegou a se oferecer para participar de sua campanha.
- "Filha de 68" X "liberal progressista" -
Se for confirmado, o duelo entre Sheinbaum e Gálvez promete ser um choque de origens, personalidades e estilos.
Neta de judeus vindos da Bulgária e da Lituânia, Sheinbaum tem um perfil reservado e prudente, sem carisma, segundo seus adversários.
"Sou filha de 68", diz a ex-prefeita, que reivindica a herança das lutas sociais e não ter pertencido nunca ao PRI, o antigo partido hegemônico no México por 70 anos no século XX.
Proveniente da burguesia intelectual da capital mexicana, Sheinbaum promete dar continuidade às políticas do atual presidente López Obrador, limitado a um único mandato de seis anos, segundo a Constituição.
Em nome do Morena, Sheinbaum afirma que defenderá os mais pobres, inclusive as comunidades indígenas, e comemora os bons resultados macroeconômicos do atual governo (moeda forte, finanças saudáveis).
Vestindo com frequência peças tradicionais indígena, a opositora Gálvez é originária de um povoado no estado de Hidalgo (centro).
Xóchitl (flor no idioma náhuatl) nasceu em uma família humilde, filha de pai indígena otomí e mãe mestiça.
Engenheira e empreendedora de sucesso, Gálvez não hesita em usar palavrões em seus discursos.
"Minha regra de ouro: não quero ladrões, nem manés, nem babacas", repetiu, na segunda-feira, em entrevista à AFP, no dia seguinte à sua indicação. Ela também afirma que vai combater a violência com os "ovários".
- Duelo -
Gálvez desafiou Sheinbaum a fazer campanha sozinha, sem a ajuda do presidente, a quem se atribui o favoritismo da ex-prefeita.
"Ela (Sheinbaum) consegue sozinha, que diga a ele: (...) 'O senhor se dedique a governar e me deixe ser a candidata'", disse à AFP.
"Porque então, eu teria que enfrentar o presidente da República e ela, e esta é uma disputa desigual", acrescentou.
Gálvez se declara liberal e progressista, sintetizando as ideias dos três partidos que a apoiam: o liberalismo econômico do PAN, de direita, o ideal de justiça social do PRD, de esquerda, e a herança institucional do PRI.
"Comigo, não haverá retrocesso nos direitos conquistados, tanto da comunidade LGBTQ, quanto das mulheres", prometeu.
Nesta quarta-feira, a Suprema Corte do México desciminalizou completamente o aborto, enquanto o casamento entre pessoas do mesmo sexo é legal nos 32 estados.
Aproveitando a popularidade de López Obrador, Sheinbaum é a favorita para ganhar a Presidência na disputa contra Gálvez, de acordo com duas pesquisas recentes.
Combativa, Xóchitl acredita que pode recuperar terreno, após ter despertado e unificado a oposição em apenas dois meses de campanha.
W.Widmer--HHA