Derna é 'triste retrato' das injustiças do mundo, diz secretário-geral da ONU
A catástrofe da cidade líbia de Derna, onde milhares de pessoas morreram em inundações, é um "triste retrato" de um mundo marcado por injustiças, advertiu o secretário-geral da ONU, António Guterres, na abertura da 78ª Assembleia Geral da organização, em Nova York.
"Derna é um triste retrato do estado do nosso mundo, com a avalanche de desigualdade, injustiça (e) incapacidade de enfrentar os desafios que nos ameaçam", alertou Guterres, urgindo os 193 países-membros da ONU a fazerem uma reforma das instituições multilaterais para que reflitam "realidades econômicas do século XXI".
"O mundo mudou, as nossas instituições, não", disse Guterres.
"Não podemos abordar, eficazmente, os problemas tal como são, se as instituições não refletem o mundo como ele é", acrescentou, após recordar a série de "crises existenciais" que o mundo atravessa: da crise climática às "tecnologias disruptivas", como a Inteligência Artificial, ou as armas autônomas que operam sem controle humano.
Para este mundo "multipolar", são necessárias "instituições multilaterais eficazes", insistiu.
Guterres também pediu aos chefes de Estado e de governo "determinação" para acabar com as guerras, melhorar a situação da população, enfrentar os desafios do planeta e respeitar os direitos humanos e a legislação internacional.
"Nosso mundo precisa de um espírito de Estado, não de jogo e bloqueio", disse ele, ante as evidências de um mundo cada vez mais "multipolar", no qual o termo "compromisso" se tornou "um palavrão".
Além das guerras e conflitos que assolam diferentes regiões do mundo (Ucrânia, Sahel, República Democrática do Congo, Haiti, Afeganistão, Mianmar, Territórios Palestinos), Guterres também advertiu sobre a desigualdade de gênero, a desigualdade econômica "que define nosso tempo" e os desafios colocados pela mudança climática.
"Todos os continentes, cada região e cada país sentem o calor. Não tenho certeza de que todos os líderes estão sentindo esse calor", afirmou.
O secretário-geral da ONU falou ainda dos riscos representados pela Inteligência Artificial e pediu a criação de uma "nova entidade global" para ajudar a mitigar seus riscos e benefícios para a humanidade.
E.Borstelmann--HHA