Separatistas entregam armas em Nagorno-Karabakh, que recebe primeiro combio humanitário
O primeiro comboio de ajuda humanitária internacional chegou neste sábado (23) a Nagorno-Karabakh, onde separatistas armênios entregaram suas armas ao Azerbaijão, após a ofensiva militar relâmpago de Baku, no início da semana.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha [CICV] "passou pelo corredor [humanitário] de Lachin para fornecer 70 toneladas de ajuda humanitária à população", disse à AFP um funcionário da Cruz Vermelha presente no posto de controle armênio de Kornidzor.
Desde o final de 2022, Erevan acusa Baku de bloquear esta rodovia, a única que liga Nagorno-Karabakh à Armênia, e de agravar a situação dos moradores deste enclave.
Na terça-feira (19), o Exército azeri anunciou uma ofensiva "antiterrorista" de um dia contra as tropas separatistas armênias. Neste sábado, informou que o lado derrotado entregou suas armas.
Durante uma viagem com a imprensa, da qual a AFP pôde participar, soldados azeris mostraram centenas de armas leves e blindados marcados com uma cruz branca, que foram entregues pelos separatistas.
Nos arredores da cidade de Shusha, controlada por Baku, um arsenal militar estava exposto com grandes letras pretas: "Karabakh é azeri".
- 'Desmilitarização' -
Além da entrega de armas, os separatistas também negociam a retirada de suas tropas.
"Conforme os acordos para cessar as hostilidades, as formações armadas de Karabakh começaram a entregar suas armas e equipamento militar sob supervisão das forças de paz russas", disse o Ministério da Defesa da Rússia na sexta-feira, especificando que já haviam sido entregues seis blindados e mais de 800 armas leves com munições.
As negociações entre as autoridades de Nagorno-Karabakh e o lado azeri, que começaram na quinta-feira "sob os auspícios das forças de manutenção da paz russas", permitirão "organizar o processo de retirada das tropas e garantir o retorno dos cidadãos deslocados pela agressão militar", segundo os separatistas.
Além disso, também está sendo discutido "o procedimento de entrada e saída dos cidadãos do enclave.
O ministro das Relações Exteriores do Azerbaijão, Jeyhun Bayramov, prometeu neste sábado, na Assembleia Geral da ONU, que seu país tratará "os residentes de etnia armênia da região de Karabakh, no Azerbaijão, como cidadãos iguais".
Apesar das negociações em curso e do cessar-fogo alcançado na quarta-feira, um soldado azeri ficou ferido neste sábado, informou o exército de manutenção da paz russo.
- Retiradas -
Milhares de civis vivem em situação de emergência humanitária nesta região separatista, cuja "capital" Stepanakert está cercada de soldados azeris, de acordo com autoridades locais.
Yana Avanessian, uma professora de Direito natural desta localidade, conta que a situação na capital está "horrível".
"Esperamos retiradas em breve, especialmente das pessoas cujas casas foram destruídas", disse a mulher, de 29 anos, no posto de controle armênio na fronteira de Kornidzor.
Nesta região fronteiriça, grupos de pessoas esperam notícias de seus familiares, que ficaram bloqueados no enclave.
"Estou esperando há três dias e três noites. Estou dormindo no carro", diz Garik Zakarian, de 28 anos.
"Não tenho muita esperança [de ver os familiares], mas não podia fazer nada. Só de estar aqui, ver a base russa a um quilômetro de distância, já me faz sentir melhor", afirma ele.
Segundo um correspondente da AFP, Stepanakert está sem eletricidade e combustível. Seus habitantes também sofrem com a falta de alimentos e remédios.
O conselheiro do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, afirmou que Baku prometeu ao CICV que enviaria ajuda e cuidaria dos soldados separatistas feridos com ambulâncias autorizadas pela Armênia.
A incursão militar de Baku, que durou cerca de 24 horas, deixou pelo menos 200 mortos e 400 feridos, segundo os separatistas armênios.
Criticado por sua passividade diante do Azerbaijão, o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, admitiu na sexta-feira que a situação continua "tensa" no enclave, onde persiste "a crise humanitária".
Mas "há esperança de uma dinâmica positiva", acrescentou o chefe do governo armênio, para quem o cessar-fogo está sendo "globalmente" respeitado.
Desde o início dos conflitos recentes, críticos ao premiê se manifestam todos os dias na capital Erevan para protestar contra sua gestão de crise.
Nagorno-Karabakh já foi sacudida por duas guerras entre as antigas repúblicas soviéticas do Cáucaso, Azerbaijão e Armênia: uma, de 1988 a 1994, com 30.000 mortos; outra, no outono de 2020, com 6.500 mortos.
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A.Roberts--HHA