Israel afirma que suas tropas entraram no centro de Rafah
O Exército israelense confirmou, nesta sexta-feira (31), que suas tropas haviam entrado no centro de Rafah, intensificando sua guerra de quase oito meses contra o movimento palestino Hamas, apesar dos apelos internacionais para interromper a ofensiva terrestre na cidade do sul de Gaza.
A preocupação com a segurança dos civis palestinos que se aglomeram em Rafah não impediu Israel de continuar a operação que lançou em 7 de maio com o objetivo de eliminar os últimos batalhões do Hamas.
O presidente dos EUA, Joe Biden - que ameaçou reconsiderar seu apoio ao aliado Israel no caso de uma ofensiva em larga escala na cidade fronteiriça egípcia - fará uma declaração sobre a situação no Oriente Médio na sexta-feira, informou a Casa Branca.
O Exército israelense indicou que seus "comandos operam no centro de Rafah", onde "destruíram um depósito de armas do Hamas".
Também anunciou a morte de dois soldados em Gaza, elevando o número de militares mortos a 292 desde que Israel lançou sua ofensiva terrestre no final de outubro.
Antes do início da operação israelense em Rafah, a ONU estimou que 1,4 milhão de pessoas se refugiavam na cidade. Um milhão havia fugido desde então, segundo a Agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA).
Testemunhas relataram bombardeios israelenses perto de Rafah e em Nuseirat, no centro do território palestino.
No centro do território, 11 pessoas morreram em bombardeios noturnos em Deir al Balah e no campo de refugiados de Nuseirat, segundo fontes médicas.
O Exército afirmou que "eliminou vários terroristas que operavam perto" de suas tropas na área.
- Crise humanitária -
A mobilização terrestre em Rafah permitiu a Israel assumir o controle do corredor da Filadélfia, uma faixa de 14 quilômetros ao longo da fronteira entre Gaza e o Egito.
O porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari, acusou o Hamas de usar esse corredor para transportar armas para a Faixa de Gaza através de túneis.
O presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sissi, negou a existência destes túneis e acusou Israel de procurar justificativas para sua ofensiva em Rafah.
Egito e Israel culpam-se mutuamente pelo bloqueio da passagem fronteiriça de Rafah, crucial para a entrada de ajuda humanitária em Gaza e fechada desde que o Exército assumiu o controle do lado palestino no início de maio.
A ONU alerta frequentemente para o risco de fome em Gaza, sob cerco israelense quase desde o início do conflito, em outubro.
"Já se passaram 24 dias desde que a ocupação israelense assumiu o controle da passagem de Rafah e fechou a de Kerem Shalom, agravando a crise humanitária e impedindo que 22 mil feridos e doentes saíssem de Gaza para tratamento e que entrasse ajuda", lamentou na sexta-feira a assessoria de imprensa das autoridades de Gaza, território governado pelo Hamas desde 2007.
O Escritório das Nações Unidas de Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA, sigla em inglês) afirmou que "a ajuda que entra [em Gaza] não chega à população" e lembrou que a obrigação legal de Israel de fornecer ajuda "não termina na fronteira".
O chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, conclamou Israel a “cessar sua campanha” contra a agência, em um artigo publicado no New York Times.
Israel acusou os funcionários da UNRWA de envolvimento no ataque do Hamas em 7 de outubro que desencadeou a guerra, o que levou vários países a interromper o financiamento.
No dia do ataque, comandos do Hamas mataram 1.189 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, segundo um relatório da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Os milicianos também sequestraram 252 pessoas. Israel afirma que 121 permanecem sequestrados em Gaza, dos quais 37 morreram.
Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva que deixou até agora 36.224 mortos em Gaza, segundo o balanço do Ministério da Saúde do território palestino.
Com as negociações indiretas para um cessar-fogo paralisadas, o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, indicou nesta sexta-feira que "a resistência (...) informou mais uma vez aos mediadores que suas exigências não são negociáveis".
A.Baumann--HHA