Israel bombardeia norte a sul da Faixa de Gaza
Israel bombardeou nesta terça-feira (04) a Faixa de Gaza de norte a sul, em sua ofensiva contra o movimento islamita Hamas, apesar dos apelos internacionais por uma trégua, após quase oito meses de conflito.
Quase um mês depois de Israel iniciar a ofensiva terrestre contra Rafah, cidade do sul da Faixa, na fronteira com o Egito, combates voltaram a ser registrados em outras áreas do território palestino.
Uma testemunha relatou disparos de artilharia em Khan Yunis, cidade praticamente destruída a alguns quilômetros de distância de Rafah, que também foi bombardeada.
Os ataques israelenses também atingiram a Cidade de Gaza, no norte, bem como o acampamento palestino de Al Bureij e Deir el Balah, no centro do território governado pelo Hamas desde 2007.
A guerra começou em 7 de outubro, quando milicianos islamistas mataram 1.194 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e iniciou uma ofensiva aérea e terrestre que deixa 36.550 mortos em Gaza até o momento, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas.
Após quase oito meses de conflito, nada parece indicar que o plano para um cessar-fogo anunciado na semana passada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e que segundo ele foi proposto por Israel, vai prosperar.
O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou nesta terça-feira pela noite que o gabinete de guerra estava reunido, sem dar detalhes.
Ao mesmo tempo, o Parlamento da Eslovênia, país-membro da União Europeia e da Otan, aprovou um decreto que reconhece a Palestina como Estado, após rejeitar uma moção da oposição que propunha adiar a votação por um mês.
A Eslovênia se soma, assim, a Espanha, Irlanda e Noruega, que em 28 de maio reconheceram a Palestina, provocando a indignação de Israel.
- Proposta 'parcial' -
O projeto de trégua, que tem o apoio "pleno" dos países do G7, prevê um cessar-fogo de seis semanas e a retirada das forças israelenses das zonas densamente povoadas de Gaza, assim como a libertação de alguns reféns, em particular mulheres e pessoas com alguma doença, e de prisioneiros palestinos detidos por Israel.
Em uma fase posterior, o plano inclui um cessar-fogo "permanente", desde que o Hamas "cumpra os seus compromissos", segundo Biden.
Na segunda-feira, no entanto, o gabinete de Netanyahu, considerou que o projeto apresentado era "parcial" e afirmou que prosseguiria com a ofensiva até alcançar "todos os objetivos", incluindo a "destruição" do Hamas e o retorno de "todos os reféns" sequestrados em 7 de outubro.
O Catar, que atua como mediador entre Israel e o Hamas, afirmou nesta terça-feira que espera uma "posição clara" do governo israelense sobre o projeto. Também ressaltou que o Hamas ainda não anunciou sua posição sobre o plano.
O presidente francês, Emmanuel Macron, exortou o grupo islamista - classificado como organização "terrorista" por Israel, Estados Unidos e União Europeia - a aceitar a proposta.
Em Beirute, um representante do movimento palestino, Osama Hamdan, acusou Israel de querer negociações "sem fim" e reforçou que o Hamas não vai aceitar nenhum acordo se este não garantir uma trégua permanente.
Netanyahu, que lidera um frágil governo de coalizão, a administração mais à direita da história do país, enfrenta uma pressão cada vez maior.
Parentes dos reféns protestaram e exigiram uma trégua, mas os aliados de extrema direita de Netanyahu ameaçam implodir o governo em caso de cessar-fogo.
Em contrapartida, os dois partidos religiosos ultraortodoxos que também fazem parte do Executivo, Shass e Judaísmo Unido da Torá, afirmaram que apoiam a proposta para que os reféns possam ser libertados.
Em entrevista à revista Time publicada hoje, Biden disse que havia razões para concluir que Netanyahu estava prolongando a guerra para sobreviver politicamente. "Existem muitas razões para que as pessoas cheguem a essa conclusão", disse Biden durante a conversa, que aconteceu antes de ele revelar o plano de trégua, na última sexta-feira.
Hoje, na Casa Branca, Biden moderou seu discurso ao ser questionado sobre o assunto: "Ele está tentando resolver esse problema sério que tem."
- 'Águas residuais' -
As forças israelenses entraram em 7 de maio na cidade de Rafah onde, segundo a ONU, 1,4 milhão de palestinos estavam refugiados. Devido à operação, um milhão de pessoas foram forçadas a fugir novamente.
A representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Mediterrâneo Oriental, Hanan Balkhy, disse nesta terça à AFP que os habitantes de Gaza se veem obrigados a consumir águas residuais e a comer ração para gado. Gaza necessita de "paz" e um aumento da ajuda humanitária, insistiu ela na sede da organização em Genebra.
A.Wulhase--HHA