Hamburger Anzeiger - Restrições ao aborto nos EUA impactam na anticoncepção e mortalidade infantil

Restrições ao aborto nos EUA impactam na anticoncepção e mortalidade infantil
Restrições ao aborto nos EUA impactam na anticoncepção e mortalidade infantil / foto: Jim WATSON - AFP

Restrições ao aborto nos EUA impactam na anticoncepção e mortalidade infantil

As restrições ou proibições ao aborto em alguns estados dos Estados Unidos podem ter a consequência indesejada de reduzir o acesso aos métodos anticonceptivos e aumentar a mortalidade infantil, alertam dois estudos divulgados esta semana em uma revista científica.

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Os estudos foram publicados quando se completam dois anos da histórica decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos de revogar o direito federal ao aborto, devolvendo a cada estado a liberdade para legislar sobre o tema polêmico.

Um primeiro estudo, publicado nesta quarta-feira (26) na revista Jama, mostra que nos estados onde foi adotada a proibição do aborto houve uma queda significativa no número de pílulas anticoncepcionais e pílulas do dia seguinte dispensadas pelas farmácias.

A pílula, que é tomada oralmente todos os dias, é o método anticonceptivo hormonal mais comum nos Estados Unidos. A pílula do dia seguinte, por sua vez, é um anticonceptivo de emergência que se toma rapidamente após relações sexuais quando outros métodos anticonceptivos falham (como o rompimento de um preservativo, por exemplo) ou não existem.

Para o estudo, os pesquisadores analisaram mais de 143 milhões de receitas médicas entre março de 2021 e outubro de 2023.

Na opinião deles, a queda pode ser explicada pelo fechamento de clínicas de planejamento familiar nesses estados, onde se praticavam abortos, mas também se prescreviam anticonceptivos.

No caso específico da pílula do dia seguinte, a confusão sobre sua legalidade nesses estados também pode influenciar na diminuição, afirma o estudo.

"Dado o importante papel dos anticonceptivos orais e de emergência na prevenção da gravidez e para evitar o aborto, é necessário realizar esforços para melhorar o acesso à contracepção, especialmente nos estados onde o aborto legal já não é uma opção", concluíram os pesquisadores.

- 'Trauma familiar' -

Outro estudo, publicado na segunda-feira na mesma revista, examinou o impacto das restrições ao aborto na mortalidade infantil.

O estudo se concentrou em uma lei que entrou em vigor em setembro de 2021 no Texas, que limita o aborto a aproximadamente seis semanas de gravidez, sem exceções em caso de doenças congênitas.

Por meio da análise dos certificados de óbito, os pesquisadores constataram um aumento de 12,9% no número de mortes de bebês menores de 12 meses no Texas entre 2021 e 2022, em comparação com 1,8% para todos os outros estados.

Também observaram um aumento de 22,9% nas mortes de bebês no Texas relacionadas a doenças congênitas, a principal causa de mortalidade infantil.

"Esses resultados sugerem que as políticas restritivas ao aborto podem ter importantes consequências indesejadas em termos de saúde infantil, trauma familiar e custos médicos", comentou Alison Gemmill, autora principal do estudo, em um comunicado.

O Texas proibiu completamente o aborto, exceto nos casos em que a vida da mãe está em perigo. No entanto, o medo de serem processados leva alguns médicos texanos a se recusarem a intervir mesmo em casos de complicações graves.

J.Berger--HHA