Hamburger Anzeiger - Ausência de Milei em cúpula do Mercosul foi 'uma bobagem', diz Lula

Ausência de Milei em cúpula do Mercosul foi 'uma bobagem', diz Lula
Ausência de Milei em cúpula do Mercosul foi 'uma bobagem', diz Lula / foto: DANIEL DUARTE - AFP

Ausência de Milei em cúpula do Mercosul foi 'uma bobagem', diz Lula

A decisão do chefe de Estado argentino, Javier Milei, de faltar à reunião do Mercosul nesta segunda-feira (8) foi "uma bobagem", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao término do encontro do bloco regional em Assunção, no Paraguai, que está paralisado pelo impasse envolvendo um acordo com a União Europeia.

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"É uma bobagem mesmo o presidente de um país importante como a Argentina não participar do Mercosul", disse Lula a jornalistas após o encontro.

"A ausência de um presidente não atrapalha se o país está presente", afirmou o presidente brasileiro. "O que interessa é que o povo argentino participará do Mercosul", acrescentou.

Os presidentes dos outros dois países fundadores do bloco - o uruguaio Luis Lacalle Pou e o anfitrião, o paraguaio Santiago Peña - também lamentaram a falta de integração do Mercosul e sua tendência de ficar prejudicado por diferenças ideológicas.

"Se o Mercosul é tão importante, todos os presidentes deveriam estar aqui. Eu dou importância ao Mercosul. E, se realmente acreditamos neste bloco, deveríamos estar todos presentes", criticou Lacalle Pou.

Com suas palavras, o líder uruguaio se referia a Milei, o economista ultraliberal que realiza uma profunda reforma do Estado na Argentina e que faltou ao encontro depois de um troca de ofensas com Lula, a quem tachou de "corrupto" e "comunista" com o "ego inflamado".

Por sua vez, o presidente paraguaio comentou que o bloco sofria de "fadiga de integração". "Avançou muito na década de 1990, mas, nos anos 2000, [...] houve uma mudança na tendência com um viés ideológico que fez o bloco se desintegrar", disse.

Representando Milei, a chanceler argentina Diana Mondino afirmou em seu discurso: "Não temos por que estar de acordo, mas sim temos que poder ouvir opiniões diferentes. Espero que alcancemos como grupo essa maturidade".

- Mais flexibilidade -

Mondino criticou o "excesso de regulamentações" do bloco regional, com as quais, ao invés de se defenderem de outros mercados, os países-membros acabaram limitando suas próprias exportações.

"O Mercosul deixou de ser uma válvula de escape para se transformar em um colete que nos imobiliza", sustentou, ao defender o "fim das barreiras tarifárias", uma posição oposta ao tradicional protecionismo da Argentina.

A flexibilidade - que permitiria acordos com terceiros países sem a anuência de seus parceiros -, é uma velha reivindicação do Uruguai, que assumiu a presidência semestral do grupo prometendo impulsionar um acordo com a China.

A missão é difícil: o Paraguai carece de relações com o país asiático pois reconhece Taiwan, algo que Pequim não tolera.

"Não estamos fechados à negociação como bloco, mas não estamos dispostos a renunciar a uma negociação de mais de 66 anos com a República da China [Taiwan]", explicou Peña ao ser questionado se aprovaria um tratado de livre-comércio com Pequim.

- Acordo estagnado com UE -

O encontro acontece em meio à paralisação das tratativas para um acordo de livre-comércio com a União Europeia (UE), negociado há mais de 20 anos e que prevê eliminar a maioria das tarifas entre os dois blocos, o que criaria um espaço comercial de mais de 700 milhões de consumidores.

O acordo enfrenta resistência de alguns países europeus, principalmente a França, cujo setor agropecuário teme a concorrência dos produtos agrícolas sul-americanos.

Em uma nota mais otimista, os presidentes destacaram um acordo recente com Singapura, que rompeu mais de uma década de letargia ao ser assinado em dezembro, e o lançamento na semana passada de negociações com os Emirados Árabes Unidos.

Durante a 64ª cúpula do Mercosul, o presidente da Bolívia, Luis Arce, formalizou a entrada de seu país no bloco. A lei de adesão foi promulgada dias depois de o país andino sufocar uma tentativa de golpe de Estado em La Paz, um episódio que foi condenado pelos demais países do Mercosul, exceto a Argentina, que o considerou uma "fraude".

Além disso, o novo presidente do Panamá, José Raúl Mulino, que participou como convidado, anunciou que buscará fazer parte do bloco como país-associado, juntando-se a outros seis países da região.

A Venezuela é membro pleno, mas foi suspensa em 2017 devido à "ruptura da ordem democrática". Nesse sentido, Lacalle Pou pediu a realização de "eleições livres" em 28 de julho, quando o presidente Nicolás Maduro tentará um terceiro mandato que o projeta para 18 anos no poder.

Fundado em 1991, o Mercosul é o principal destino de investimentos estrangeiros na América do Sul e tem um PIB de 2,86 trilhões de dólares (R$ 15,6 trilhões).

M.Huber--HHA