Hamburger Anzeiger - Opositor González descarta pedir asilo após ordem de prisão na Venezuela

Opositor González descarta pedir asilo após ordem de prisão na Venezuela
Opositor González descarta pedir asilo após ordem de prisão na Venezuela / foto: RAUL ARBOLEDA - AFP/Arquivos

Opositor González descarta pedir asilo após ordem de prisão na Venezuela

O candidato opositor Edmundo González Urrutia descartou, por enquanto, pedir asilo em alguma embaixada na Venezuela, após a justiça emitir um mandado de prisão contra ele, ordem que gerou rejeição e preocupação internacional.

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Um tribunal com competência em terrorismo ordenou na noite de segunda-feira (2) — poucos minutos após um pedido do Ministério Público — a detenção do diplomata de 75 anos, que denuncia que a reeleição do presidente Nicolás Maduro foi fraudulenta e afirma que venceu as eleições de 28 de julho com ampla vantagem.

Há mais de um mês na clandestinidade, González é procurado por crimes que incluem "desobediência às leis", "conspiração", "usurpação de funções" e "sabotagem".

"Temos pouco conhecimento sobre esse processo judicial", explicou nesta terça-feira seu advogado, José Vicente Haro, do lado de fora da residência de González em Caracas. O mandado, que está a cargo da polícia judiciária, ainda não foi executado.

Haro indicou que o diplomata, por enquanto, não procurou refúgio em alguma representação diplomática. "Não pediu asilo. É uma questão que a família ou o senhor Edmundo González Urrutia não levantaram", declarou.

Maduro chamou o opositor de covarde por estar "enconchado", gíria popular para quem se esconde das autoridades, e afirmou que ele está preparando a fuga.

"[O governo] sempre utiliza esse tipo de estratégia para quem fala contra ele", disse Mauricio, um mecânico de 49 anos.

"Pensei que era uma forma de intimidá-lo e fazê-lo sair [do país], mas agora emitiram [o mandado de prisão] e sinto que ele está em perigo", disse Michelle Méndez, uma advogada de 25 anos. "Se ele se for [para outro país] será muito triste, mas eu entenderia", acrescentou.

- Mais sanções? -

"Este é apenas mais um exemplo dos esforços do senhor Maduro para manter o poder pela força", declarou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, enquanto Brian Nichols, representante dos EUA para a América Latina e o Caribe, qualificou o mandado de prisão como "injustificado".

Os Estados Unidos, com quem a Venezuela não mantém relações formais há cinco anos, estão considerando "uma série de opções" para mostrar a Maduro "que suas ações ilegítimas e repressivas na Venezuela têm consequências", afirmou Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado.

Washington já impôs em 2019 uma série de sanções contra o país caribenho, mas flexibilizou várias delas nos últimos anos, especialmente no que se refere à exploração petrolífera.

O alto representante da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, rejeitou "categoricamente" a medida, enquanto um porta-voz da ONU disse que o secretário-geral, António Guterres, "acompanha com preocupação" os eventos na Venezuela e reiterou seu "apelo à proteção total e ao respeito pelos direitos humanos".

Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai também rejeitaram "de forma inequívoca e absoluta" o mandado de prisão.

A Venezuela rompeu relações diplomáticas com vários desses países pelo não reconhecimento da reeleição de Maduro.

O mandado de prisão busca "silenciar o senhor González, desconhecer a vontade popular venezuelana e constitui perseguição política", indicou o comunicado. "Em um país onde não há separação de poderes nem garantias judiciais mínimas e onde abundam as detenções arbitrárias, condenamos estas práticas ditatoriais."

A líder da oposição, María Corina Machado, agradeceu no X as manifestações de apoio.

- "Acusador político" -

Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato de seis anos, até 2031, pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que não publicou o detalhamento da apuração como exige a lei.

A oposição afirma que a vitória de González é comprovada pelas cópias de mais de 80% das atas de votação que foram publicadas em um site, documentos que o chavismo desconsidera e diz serem forjados.

Este site é o foco da investigação que levou à ordem de prisão contra González.

A ordem de prisão chega após o descumprimento de três convocações por parte de González, chamado a depor no MP, que o investiga em um processo criminal.

O diplomata argumentou dias atrás que o MP agia como um "acusador político" que o submeteria a um processo "sem garantias de independência e do devido processo".

Maduro pediu que González e Machado, que também está na clandestinidade, fossem presos. Ele responsabiliza os líderes opositores por atos de violência nos protestos pós-eleições que deixaram 27 mortos — dois deles militares — quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos, incluindo mais de 100 menores de idade.

A medida contra González também coincide com a apreensão pelos Estados Unidos de um avião utilizado por Maduro que foi adquirido, segundo as autoridades, por "contrabando".

U.Smith--HHA