Dirigentes dos Brics multiplicam apelos à paz no Oriente Médio e Ucrânia
Os apelos à paz no Oriente Médio e na Ucrânia se multiplicaram na cúpula do Brics, na Rússia, nesta quarta-feira (23), com o anfitrião da reunião, o presidente Vladimir Putin, se mostrando favorável a propostas de mediação para acabar com o conflito na ex-república soviética.
O líder russo, que vê esta cúpula como uma prova de que as tentativas ocidentais de isolá-lo depois da ofensiva na Ucrânia fracassaram, enfrentou apelos diretos de alguns dos seus parceiros mais próximos para pôr fim ao conflito com seu vizinho.
A reunião de quase vinte líderes mundiais na cidade de Kazan é a cúpula diplomática mais importante na Rússia desde que Putin ordenou o envio de tropas para a Ucrânia em fevereiro de 2022, desencadeando uma onda de sanções ocidentais e condenação internacional.
No seu discurso em Kazan, o presidente da China, Xi Jinping, pediu que "não haja uma escalada dos combates".
"A crise na Ucrânia se prolonga (…) Devemos aderir aos três princípios de não haver repercussões no campo de batalha, não haver escalada de combates e não colocar lenha na fogueira", disse ele a Putin.
Rússia e China assinaram uma parceria estratégica "sem limites" dias antes de Moscou iniciar sua operação militar na Ucrânia.
Sem se referir a qualquer conflito específico, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, também apelou à paz. "Apoiamos o diálogo e a diplomacia, não a guerra", disse.
A Ucrânia sentiu que a Rússia não conseguiu obter o apoio das potências emergentes que compõem o Brics e dos convidados para Kazan que esperava em relação à Ucrânia.
“A cúpula do Brics, que a Rússia tentou usar para dividir o mundo, provou mais uma vez que a maioria do mundo permanece ao lado da Ucrânia em sua busca por uma paz abrangente, justa e duradoura”, disse o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia em um comunicado.
O grupo Brics foi criado em 2009 com quatro membros (Brasil, China, Índia e Rússia) e em 2010 incorporou a África do Sul. Em 2024, outros quatro países aderiram ao bloco (Etiópia, Irã, Egito e Emirados Árabes Unidos).
- Ofertas de mediação -
Sobre a crise no Oriente Médio, o Brics pediu a Israel em uma declaração conjunta que "encerre imediatamente" os ataques contra a força da ONU no Líbano (Unifil) e "preserve a integridade territorial" do país.
O presidente do Irã, Masud Pezeshkian, cujo país e Israel são inimigos jurados, instou os membros do grupo a ajudar a "pôr fim à guerra" em Gaza e no Líbano.
Uma fonte do Hamas informou à AFP que uma autoridade do movimento islamista palestino chegou a Moscou para discutir sobre os meios para "deter a agressão e a guerra contra Gaza e na região".
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, também pediu para evitar a escalada tanto no Oriente Médio quanto na Ucrânia.
Em um momento em que enfrentamos duas guerra que têm o potencial de se tornar globais, é essencial restaurar nossa capacidade de trabalhar juntos para conseguir objetivos comuns", disse Lula em Brasília por videoconferência.
Segundo o porta-voz do presidente russo, Putin acolheu positivamente, em conversas privadas com vários líderes, as propostas de mediação na Ucrânia, embora lhes tenha dito que as suas forças avançam no front.
Muitos países "expressaram o desejo de contribuir mais ativamente" para a resolução do conflito, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, citado pela mídia estatal.
Putin também aproveitou as reuniões para transmitir aos seus interlocutores "a dinâmica muito positiva no front para as forças armadas russas", disse Peskov.
Nos últimos meses, as tropas russas avançaram no leste da Ucrânia, embora o conflito pareça estagnado em uma fase de desgaste.
Tanto Xi como Modi promoveram iniciativas de paz para a Ucrânia, embora sem progressos até agora.
Também presente em Kazan está o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, cuja recente reeleição está sendo questionada pela oposição e por muitos países das Américas e da Europa.
“A Venezuela tem sido um dos parceiros confiáveis da Rússia na América Latina e em todo o mundo”, disse Putin antes de receber o líder venezuelano.
Putin também se reuniu com seu colega turco, Recep Tayyip Erdogan, e elogiou os laços “construtivos” entre seu país e a Turquia, membro da OTAN.
A Rússia vê os Brics como uma alternativa às organizações internacionais lideradas pelo Ocidente, como o G7, uma posição apoiada pelo presidente chinês Xi Jinping, um aliado fundamental de Moscou.
"O processo de formação de uma ordem mundial multipolar está em andamento, é um processo dinâmico e irreversível", disse Putin na abertura oficial da cúpula.
Ele também criticou as potências ocidentais por impor sanções econômicas aos membros do grupo, incluindo a Rússia, dizendo que poderiam desencadear uma crise global.
U.Smith--HHA