Hamburger Anzeiger - Novos dirigentes da Síria tentam tranquilizar comunidade internacional

Novos dirigentes da Síria tentam tranquilizar comunidade internacional
Novos dirigentes da Síria tentam tranquilizar comunidade internacional / foto: Aris MESSINIS - AFP

Novos dirigentes da Síria tentam tranquilizar comunidade internacional

Quatro dias após a queda de Bashar al-Assad em uma ofensiva liderada por islamistas, os novos governantes da Síria tentam tranquilizar a comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos, cujo chefe da diplomacia viajou nesta quinta-feira (12) à Jordânia para pedir uma transição "inclusiva".

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Após uma operação relâmpago de 11 dias, uma coalizão de movimentos rebeldes liderada pelo grupo sunita radical Hayat Tahrir al Sham (HTS) derrubou Assad, que fugiu para a Rússia.

A comunidade internacional está preocupada com o tratamento que os novos governantes podem reservar às várias minorias que vivem na Síria e muitos países pediram um governo "inclusivo".

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, desembarcou nesta quinta-feira na Jordânia para abordar a nova situação no país, arrasado e dividido após 13 anos de guerra.

Blinken "vai reiterar o apoio dos Estados Unidos a uma transição inclusiva (...) a um governo responsável e representativo", afirmou o Departamento de Estado ao anunciar a viagem do diplomata.

Também insistirá "na necessidade de respeitar os direitos das minorias, de facilitar a distribuição da ajuda humanitária, de impedir que a Síria sirva de base para o terrorismo ou não constitua uma ameaça para seus vizinhos, e de vigiar para que as reservas de armas químicas permaneçam seguras e sejam destruídas em total segurança", acrescentou a diplomacia americana.

O G7, grupo que reúne as principais potências ocidentais, também afirmou que apoiará uma "transição inclusiva" e exigiu que o novo governo respeite os direitos das mulheres.

Para acalmar os temores, o primeiro-ministro sírio, Mohamad al-Bashir, nomeado até 1º de março, tentou enviar uma mensagem tranquilizadora.

"Garantiremos os direitos de toda a população e de todas as religiões na Síria", prometeu o dirigente, em uma entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera publicada na quarta-feira.

Bashir também pediu aos milhões de sírios no exílio que retornem para "reconstruir" o país, de maioria árabe sunita, mas onde convivem diversas comunidades étnicas e religiosas.

O HTS alega que rompeu com o jihadismo, mas continua na lista de organizações "terroristas" de vários países ocidentais, incluindo os Estados Unidos.

Nesta quinta-feira, o novo governo anunciou que vai congelar a Constituição e o Parlamento durante o período de transição, a princípio de três meses.

"Um comitê jurídico e de direitos humanos será formado para examinar a Constituição e introduzir emendas", explicou à AFP o porta-voz de Assuntos Políticos das novas autoridades sírias, Obaida Arnaut.

- "À luz do dia" -

Quase seis milhões de sírios, ou seja, um quarto da população, fugiram do país desde 2011, quando a repressão violenta dos protestos pró-democracia resultou em uma guerra que deixou mais de 500.000 mortos.

Duzentas pessoas se reuniram nesta quinta-feira no posto fronteiriço turco de Cilvegözü, a quase 50 km de Aleppo, para entrar na Síria, segundo um policial entrevistado pela AFP.

O enviado da ONU para a Síria, Geir Pedersen, afirmou que a transição no país tem que ser "inclusiva" e precisa evitar uma "nova guerra civil".

As novas autoridades sírias agradeceram a oito países, incluindo Egito, Iraque, Arábia Saudita, Jordânia e Itália, pela reabertura das suas missões diplomáticas em Damasco, segundo um comunicado do Departamento de Assuntos Políticos.

Após a queda da dinastia Assad, que governou o país com mão de ferro durante mais de meio século, os moradores de Damasco não escondem a alegria.

"Vendo as pessoas nas ruas, temos a impressão de que estávamos todos presos debaixo da terra e que agora saímos à luz do dia", disse Razan al Halabi, morador da capital, de 38 anos.

As décadas de repressão custaram muitas vidas e milhares de sírios buscam informações sobre parentes.

Desde 2011, mais de 100.000 pessoas morreram nas prisões sírias, calculou em 2022 o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

- Oportunidade "histórica" -

A ONG Human Rights Watch afirmou que a queda de Assad é uma oportunidade "histórica" para a Síria "virar a página" sobre as violações dos direitos humanos e pediu às novas autoridades rebeldes que "deem o exemplo".

Embora a situação pareça mais calma em grande parte do país desde domingo, os combates continuam entre milicianos pró-Turquia e forças pró-curdas na região de Manbij, no norte da Síria, segundo o OSDH.

As Forças Democráticas Sírias (FDS, lideradas por curdos e apoiadas pelos Estados Unidos), que controlam amplas áreas do nordeste da Síria, anunciaram na quarta-feira uma trégua com os grupos pró-Turquia, após a mediação de Washington.

A administração autônoma curda no leste da Síria anunciou que adotará a bandeira com as três estrelas vermelhas usada pela oposição, que assumiu o poder após a derrubada de Assad.

Israel, por sua vez, anunciou centenas de bombardeios contra posições militares estratégicas na vizinha Síria para "impedir que armas caiam nas mãos de elementos terroristas".

O Exército israelense bombardeou alvos militares no litoral sírio na manhã desta quinta-feira, de acordo com o OSDH, que também relatou ataques nas imediações de Damasco.

O Irã, aliado de Assad que usou a Síria para transportar armas e combatentes na direção do movimento islamista libanês Hezbollah, admitiu na quinta-feira que deve enfrentar as novas "realidades" do país e "adaptar sua estratégia".

F.Schneider--HHA