Putin pede desculpas ao Azerbaijão por queda de avião sem aceitar responsabilidade russa
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, pediu desculpas neste sábado (28) ao seu homólogo azerbaijano pela queda de um avião comercial na quarta-feira em seu espaço aéreo, embora não tenha chegado a aceitar a possibilidade de que a aeronave tenha sido atingida por um míssil russo.
Putin admitiu que o sistema antiaéreo estava ativo quando o avião tentou pousar em Grozni, capital da república da Chechênia, em território russo, antes de cair.
O Kremlin informou que Putin se desculpou com o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, pelo "trágico acidente", durante uma conversa por telefone, mas não afirmou que o sistema de defesa antiaérea russo derrubou a aeronave - uma hipótese apontada por especialistas dos Estados Unidos e de outros países ocidentais.
O avião Embraer 190, de fabricação brasileira e operado pela Azerbaijan Airlines, transportava 67 pessoas e realizava um voo de Baku, capital do Azerbaijão, para Grozni.
A aeronave caiu e pegou fogo perto de Aktau, um porto no mar Cáspio, no oeste do Cazaquistão, distante de sua rota normal. O acidente resultou na morte de 38 passageiros.
Putin reafirmou a necessidade de realizar uma investigação "objetiva e transparente" sobre o acidente.
"A comissão governamental cazaque encarregada de investigar todos os detalhes do incidente chamará especialistas russos, azerbaijanos e brasileiros [...] Este trabalho, realizado no território do Cazaquistão, será objetivo e transparente", disse Putin em uma ligação telefônica com seu homólogo cazaque, Kassym-Jomart Tokayev, segundo o Kremlin.
O presidente russo disse que o avião "tentou aterrissar no aeroporto de Grozny". Mas "naquele momento, as cidades de Grozny, Mozdok e Vladikavkaz estavam sendo atacadas por drones de combate ucranianos, e o sistema de defesa aérea russo repeliu os ataques", acrescentou.
Por sua vez, o presidente azerbaijano afirmou que o avião foi atingido por "uma interferência física externa", o que dá credibilidade à hipótese de que um míssil russo tenha derrubado acidentalmente o avião, mas sem acusar formalmente a Rússia, país com o qual Baku mantém laços estreitos.
"O chefe de Estado ressaltou que as múltiplas perfurações na fuselagem do avião, as lesões sofridas pelos passageiros e pela tripulação [...] e os testemunhos [...] confirmam a evidência de uma interferência física e técnica externa", informou a presidência azerbaijana em um comunicado.
- "Uma explosão" -
Desde o incidente de quarta-feira, suspeitas apontavam que a Rússia poderia ter derrubado acidentalmente a aeronave.
Vários especialistas ocidentais consideram que as imagens da fuselagem mostram perfurações normalmente causadas por esse tipo de míssil.
A vice-presidente da União Europeia, Kaja Kallas, reiterou neste sábado a necessidade de iniciar uma investigação internacional independente.
Kallas considera que este incidente é um "duro lembrete" do voo MH17 da Malaysian Airlines, derrubado por um míssil lançado por rebeldes pró-russos no leste da Ucrânia em 2014.
O diretor da agência russa de aviação civil Rosaviatsia, Dmitri Yadrov, declarou no Telegram que a situação no aeroporto de Grozny na quarta-feira era "muito difícil" devido aos ataques de "drones militares ucranianos".
O diretor afirmou que, após duas tentativas "frustradas" de fazer o avião azerbaijano aterrissar em Grozny, onde havia uma "densa neblina", o piloto "tomou a decisão de ir para o aeroporto de Aktau".
Subjonkul Rajimov, um passageiro que sobreviveu, relatou à mídia estatal russa que houve uma explosão fora do avião.
"Eu não diria que aconteceu dentro, porque parte da fuselagem perto de onde eu estava sentado saiu voando", afirmou.
Várias companhias aéreas anunciaram a suspensão de seus voos para a Rússia, especialmente de países vizinhos, entre elas a Turkmenistan Airlines e a Qazac Air. A companhia israelense El Al indicou na quinta-feira que suspenderia seus voos por uma semana.
A Embraer, fabricante do avião, expressou suas "condolências a todos os afetados" e afirmou que está "plenamente comprometida em apoiar as autoridades competentes".
"Em resposta, enviamos imediatamente uma equipe de especialistas para o local para prestar assistência técnica na investigação", declarou o CEO da companhia brasileira, Francisco Gomes Neto.
F.Wilson--HHA