Hamburger Anzeiger - No Irã, falecido presidente americano Jimmy Carter é lembrado como o 'artífice das sanções'

No Irã, falecido presidente americano Jimmy Carter é lembrado como o 'artífice das sanções'
No Irã, falecido presidente americano Jimmy Carter é lembrado como o 'artífice das sanções' / foto: ATTA KENARE - AFP

No Irã, falecido presidente americano Jimmy Carter é lembrado como o 'artífice das sanções'

O Irã desempenhou um papel fundamental durante o mandato presidencial de Jimmy Carter, embora muitos moradores de Teerã guardem lembranças negativas do ex-presidente dos Estados Unidos, que faleceu no domingo aos 100 anos e foi rotulado pela televisão estatal iraniana como o "artífice das sanções".

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"Carter era mau caráter", declarou Hasan Taherifar, empregado de um bazar perto da antiga embaixada dos Estados Unidos em Teerã, conhecida como o "Ninho dos Espiões".

"Em vez de apoiar nossa revolução que acabava de nascer, ele abriu um centro de espionagem em nosso país", acrescentou Taherifar.

"Que apodreça no inferno", exclamou um homem de 50 anos, sem revelar seu nome, do lado de fora do edifício.

Durante o reinado do último xá, Mohamed Reza Pahlavi, o Irã e os Estados Unidos mantiveram relações estreitas. Carter descreveu o Irã como "uma ilha de estabilidade em uma das áreas mais problemáticas do mundo" durante uma visita oficial em 1977.

Mas a situação mudou drasticamente após a Revolução Islâmica de 1979, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini.

Em 4 de novembro daquele ano, estudantes leais a Khomeini invadiram a embaixada dos Estados Unidos em Teerã e tomaram 52 funcionários como reféns, pressionando Washington a deportar o xá deposto, que estava recebendo tratamento contra um câncer nos Estados Unidos.

Os reféns ficaram em cativeiro por 444 dias, período durante o qual ocorreram as eleições presidenciais nos Estados Unidos, que Carter perdeu.

"A incapacidade de Carter de lidar com o Irã fez com que sua presidência fosse curta, um único mandato", disse um repórter da televisão estatal iraniana.

A tomada de reféns pressionou fortemente Carter, que autorizou em abril de 1980 uma missão de resgate militar totalmente secreta, a qual terminou em fracasso com a morte de oito funcionários americanos.

Washington rompeu oficialmente com Teerã em 1980, durante a crise, e as relações diplomáticas nunca foram restabelecidas.

Os reféns foram libertados em 20 de janeiro de 1981, no dia em que o sucessor de Carter, Ronald Reagan, assumiu o cargo.

Hoje, a antiga embaixada dos Estados Unidos é usada como museu, com um retrato de Jimmy Carter ainda pendurado no que foi o escritório do embaixador.

"Carter não foi bom conosco", comentou Alireza, um homem de 60 anos dono de uma companhia de seguros.

"Este incidente [a crise dos reféns] teve um grande impacto nas relações entre o Irã e os Estados Unidos, e o papel de Carter foi negativo", acrescentou.

Em 2015, o falecido presidente apoiou um histórico acordo nuclear com o Irã que aliviava as sanções em troca de limitações ao programa nuclear de Teerã.

O tratado fracassou em 2018, quando o então presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos do pacto de forma unilateral e impôs novamente sanções.

Em uma entrevista para a rede de televisão americana CNBC em 2014, Carter afirmou que poderia ter sido reeleito para um segundo mandato se tivesse tomado ações militares contra o Irã durante a crise dos reféns.

"Eu teria mostrado que era forte, decidido e viril", declarou. "Eu poderia ter apagado o Irã do mapa com as armas que possuíamos."

"Mas muitas pessoas inocentes teriam morrido no processo, incluindo provavelmente os reféns", observou.

Ch.Tremblay--HHA