Ministros da França e Alemanha pedem transição pacífica e inclusiva na Síria
Os chefes da diplomacia francesa e alemã se reuniram, nesta sexta-feira (3), com o novo líder islamista sírio em Damasco, durante uma visita em que insistiram na necessidade de uma transição pacífica e inclusiva.
Esta é a primeira reunião deste nível entre altos funcionários das principais potências ocidentais e Ahmad al Sharaa, que assumiu o poder em 8 de dezembro, após a queda do governo de Bashar al Assad.
O francês Jean-Noël Barrot e a alemã Annalena Baerbock, cuja viagem ocorre sob mandato da União Europeia (UE), reuniram-se com o líder de fato da Síria no palácio presidencial, onde Assad recebia os seus convidados.
Os primeiros passos de Sharaa, líder do grupo islamista Hayat Tahrir al Sham (HTS), à frente da coalizão rebelde que derrubou o governo Assad, são observados com extrema atenção.
"Juntas, França e Alemanha estão ao lado do povo sírio, em toda a sua diversidade", escreveu o ministro francês das Relações Exteriores na rede X.
Ambos os países querem "promover uma transição pacífica e exigente a serviço dos sírios e da estabilidade regional", acrescentou.
"A minha viagem de hoje, junto com o meu homólogo francês e em nome da UE, é um sinal claro para os sírios: um novo começo político entre Europa e Síria, entre Alemanha e Síria, é possível", declarou Baerbock.
"Com esta mão estendida, mas também com claras expectativas depositadas nos novos líderes, viajamos hoje para Damasco", acrescentou.
"Queremos apoiá-los neste âmbito: em uma transferência de poder inclusiva e pacífica, na reconciliação da sociedade, na reconstrução", disse a ministra. "Continuaremos julgando o HTS pelas suas ações", acrescentou, "apesar do nosso ceticismo".
Barrot e Baerbock também visitaram a prisão de Saidnaya, símbolo da repressão de Bashar al-Assad, que governou a Síria com mão de ferro durante mais de duas décadas.
Os ministros, acompanhados por membros da Defesa Civil síria, visitaram celas e masmorras subterrâneas onde as condições de detenção eram desumanas e onde muitos prisioneiros morreram torturados.
Segundo a Associação de Presos e Desaparecidos da Prisão de Saidnaya (ADMSP), mais de 4.000 pessoas foram libertadas no dia em que os rebeldes tomaram Damasco, após uma ofensiva impressionante.
- "Esperança frágil" -
Confrontado com o desafio de unificar o país, Ahmad al Sharaa se comprometeu a dissolver as facções armadas, incluindo o HTS, e anunciou sua intenção de convocar um diálogo nacional, sem especificar a data ou quem seria convidado, observando que pode levar quatro anos para organizar eleições no país.
Sharaa apela ao levantamento das sanções internacionais impostas ao governo de Bashar al-Assad após a repressão sangrenta de uma revolta popular em 2011, que mais tarde se transformou em uma guerra com mais de meio milhão de mortos e milhões de refugiados.
Seu grupo, o HTS, antigo braço sírio da Al-Qaeda, afirma ter rompido com o jihadismo, mas continua classificado como terrorista por várias potências ocidentais, incluindo os Estados Unidos.
O chefe da diplomacia francesa se reuniu com representantes religiosos da comunidade cristã, membros da sociedade civil e com o chefe militar curdo, para ouvir seus temores desde a chegada dos islamistas ao poder na Síria.
"Devemos encontrar uma solução política com os curdos, que são aliados da França, para que sejam plenamente integrados no processo político que começa hoje", declarou Barrot.
No dia anterior à sua visita, Barrot se reuniu com Mazlum Abdi, o chefe das Forças Democráticas Sírias (FDS, dominadas pelos curdos), que controlam parte do nordeste sírio.
Barrot anunciou que a França propôs a organização de uma conferência internacional no final de janeiro com "Síria e seus aliados" para apoiar a transição política "na direção certa".
Além disso, propôs a experiência de seu país e da UE para ajudar os sírios a escrever uma nova Constituição.
O ministro francês também pediu a destruição dos arsenais de armas químicas acumulados pelo governo anterior.
"Uma Síria soberana e segura não tem espaço para a proliferação e dispersão de armas de destruição em massa, de armas químicas do regime criminoso de Bashar al Assad", disse.
Líderes de vários países árabes e ocidentais estiveram em Damasco desde a queda de Assad, quebrando o isolamento imposto à Síria desde 2011.
O novo governo deu uma clara guinada na política do país, cujos principais aliados eram Rússia e Irã, aproximando-se especialmente da Turquia e do Catar, e tentando se abrir para o Ocidente.
E.Steiner--HHA